Laboratório de Informática Dedicado à Odontologia |
Inflamação |
FATORES QUE ALTERAM |
s fatores que alteram a inflamação estão relacionados com o agente agressor e com o hospedeiro. Esses dois elementos (agressor e hospedeiro) estabelecem uma inter-relação que assume características particulares, ou seja, cada hospedeiro, dependendo de suas características próprias e da relação com as características do agente agressor, manifestará um quadro inflamatório peculiar a seu estado pessoal. Assim, ao se analisar um processo inflamatório, deve-se observar principalmente o binômio AGRESSÃO-REAÇÃO. |
Inflamação causada por um agente químico, no caso um cimento cirúrgico (CC). Esse cimento é utilizado após cirurgias, como protetor do local, e em geral não provoca reações no paciente. Veja como esse hospedeiro reagiu a esse agente químico: vemos os sinais cardinais da inflamação e um foco de necrose. |
Segundo Guidugli-Neto (1997), a agressão-reação é dependente de fatores ligados ao agente agressor, ao hospedeiro e ao local agredido. RELACIONADOS AO AGENTE AGRESSOR (cerca de 6 fatores) 1. Tipo de agente agressor: a natureza dos agentes agressores pode ser física, química e biológica; cada desses tipos provoca uma reação inflamatória particular; para cada um deles existem subtipos que também interferem diretamente na reação inflamatória; assim, a agressão por calor ou pela eletricidade (ambos agentes físicos) determinam reações diferentes, bem como um bacilo pode provocar quadros inflamatórios diversos dos provocados por bactérias. |
Diferentes padrões morfológicos de inflamações. Ambos foram causados por agentes biológicos, porém o da esquerda foi originado do bacilo da tuberculose e o da direita, de uma bactéria piogênica. No quadro da esquerda temos uma inflamação granulomatosa, e no da direita, uma inflamação supurativa (HE, 100 e 200X). |
2.
Características do agente: além do tipo de agente, suas
características também determinam reações inflamatórias típicas.
Essas características envolvem principalmente a fonte geradora, no caso
dos agentes físicos, o composto ativo, no caso dos agentes químicos, e a
família, o gênero e a espécie, no caso dos agentes biológicos. Por
exemplo, inflamações purulentas ou
supurativas são originadas das chamadas bactérias piogênicas (estafilococos);
já alguns bacilos, devido à sua virulência e patogenicidade, podem
originar inflamações granulomatosas. Da
mesma forma existem agentes químicos que causam necrose liquefativa logo
que entram em contato com o tecido, e existem outros que atuam mais nas
outras fases da inflamação, não
exacerbando a degenerativo-necrótica.
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Vemos aqui grande quantidade de fungos do gênero Candida, tanto na forma de hifas (H) quanto de esporos (E). As características desse agente, associadas à baixa defesa do hospedeiro, estão propiciando a intensa proliferação desse fungo, como vemos em destaque no círculo, o qual evidencia a esporulação. As células teciduais já apresentam sinais de degeneração, como as vacuolizações que estão evidentes no citoplasma. Esse quadro é de candidíase em um paciente HIV positivo (citologia exfoliativa, 1000X). |
3.
Intensidade do agente: em termos gerais, quanto maior for a
intensidade do agente, mais exacerbada será a resposta inflamatória;
essa afirmação deve ser entendida em termos gerais, pois obviamente o
conceito de intensidade também depende das características do
hospedeiro, ou seja, um agente agressor pode ser intenso para mim, mas
não para você, e assim por diante. A palavra "intensidade"
pode ser empregada para os agentes físicos; mas, para os agentes
químicos, a intensidade deve ser entendida pela concentração do agente;
já para os agentes biológicos, a intensidade é sinônimo de quantidade
de microorganismos inoculados.
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Veja
leitura complementar sobre os |
4. Tempo de exposição: em termos gerais, quanto maior o tempo de exposição ao agente, mais exacerbada é a resposta inflamatória. A inflamação crônica, por exemplo, forma-se devido à maior permanência do agente agressor em contato com o hospedeiro. Logicamente que os demais fatores interferentes nesse processo devem sempre ser considerados (como, por exemplo, características do agente e intensidade). |
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5. Capacidade de invasão: a capacidade de invasão diz respeito às propriedades que o agente possui de ultrapassar as barreiras de defesa do organismo, principalmente as barreiras externas. Por exemplo, existem bactérias com maior capacidade de penetração do que outras, o que favorece a disseminação do quadro inflamatório; as que possuem baixa invasividade podem originar, por sua vez, quadros inflamatórios mais localizados. O mesmo acontece com agentes físicos e químicos; por exemplo, alguns adesivos empregados no processo de restauração dentária possuem maior capacidade de penetrar na dentina do que outros, podendo causar inflamações pulpares com mais freqüência. Outro exemplo seriam os raios X, que possuem maior penentrância do que os raios beta (Guidugli-Neto, 1997). |
As setas apontam dois fungos fagocitados por uma célula gigante. Esse fungo é o Paracoccidioido brasiliensis, que causa a Paracoccidiodomicose, uma infecção que provoca inflamações granulomatosas, manifestas principalmente em boca (HE, 650X). |
6. Resistência a fagocitose e à digestão: os agentes agressores resistem à fagocitose e à digestão de formas diferentes. Por exemplo, algumas bactérias são facilmente fagocitadas e digeridas, o que faz com que o processo inflamatório tenha curta duração; já alguns bacilos, como o M. tuberculosis, possui alta resistência a fagocitose, sendo a inflamação da tuberculose do tipo crônica. Balas de projéteis também são de difícil fagocitose, assim como a partícula de restaurações de amálgama (originando a tatuagem por amálgama).
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Alguns fatores interferentes na inflamação ligados ao agente agressor dizem respeito mais aos agentes biológicos. Fatores desse tipo incluem as relações ecológicas entre microorganismos, como sinergismo e parasitismo. A porta de entrada do agente agressor (por exemplo, via oral ou via respiratória) também influencia no quadro da inflamação, como é o caso do M. tuberculosis; quando esse parasita entra no hospedeiro via trato digestivo e não via trato respiratório, é necessário quase o dobro da quantidade de microorganismo em relação ao que penetra pelo trato respiratório para que a infecção se estabeleça (Guidugli-Neto, 1997). |
Vemos aqui um quadro exacerbado de gengivite, o qual é causado por agentes biológicos, químicos e físicos, todos atuando conjuntamente. As inflamações aqui presentes são resolvidas mediante tratamento até certo ponto simples e eficaz; porém, se o paciente tiver alguma alteração sistêmica, a resolução dessa inflamação pode ser difícil.
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FATORES LIGADOS AO HOSPEDEIRO (cerca de 4 fatores) 1. Estado de saúde: indivíduos já portadores de outras doenças podem manifestar quadros inflamatórios mais graves. É o caso, por exemplo, de portadores de diabetes mellitus; esses indivíduos possuem dificuldade de reparação, principalmente por terem alterações metabólicas e anatômicas significantes (por exemplo, arterioloesclerose), as quais influenciam diretamente nos vários momentos da inflamação; um exemplo de inflamação crônica nesses indivíduos são as gengivites e a periodontites, de difícil controle e tratamento. 2. Estado fisiológico: idade, sexo, etnia são alguns fatores que interferem no quadro inflamatório; por exemplo, os idosos, por terem baixa imunidade, geralmente são mais susceptíveis a infecções e inflamações do que os mais jovens. 3. Estado nutricional: carência de vitaminas e de proteínas pode interferir no sistema de defesa do organismo, originando inflamações com características diversas. 4. Estado hormonal: segundo Guidugli-Neto (1997), existem hormônios de favorecem a inflamação (chamados de protoflogísticos) e os que evitam ou diminuem a inflamação (os antiflogísticos). Os protoflogísticos aumentam a permeabilidade vascular (como o hormônio do crescimento) e os antiflogísticos, ao contrário, diminuem a permeabilidade vascular e fazem com que haja menor exsudação celular. Esses hormônios, portanto, atuam direta ou indiretamente nos momentos da inflamação. |
Cartilagem na região de mandíbula. Esse tecido não possui vascularização, e o processo inflamatório possui outro padrão, diferente dos tecidos vascularizados (HE, 100X). |
FATORES
LIGADOS AO LOCAL AGREDIDO (cerca de 2 fatores)
1. Tipo de tecido: as características anatômicas e fisiológicas dos tecidos que compõem os parênquimas dos órgãos são diversas e determinam diferentes padrões de inflamação. Por exemplo, nos tecidos ósseos não se observa edema, característico das inflamações agudas; ao contrário, são mais comuns inflamações crônicas nesse local; já nos tecidos mais frouxos, como pálpebra, por exemplo, facilmente se instalam fenômenos exsudativos plasmáticos. 2. Suprimento sangüíneo: em geral, os tecidos vascularizados são mais resistentes a agressão, uma vez que o processo inflamatório se instala mais rapidamente. Os tecidos não-vascularizados, como córnea e cartilagem, primeiro devem desenvolver neovascularização para depois iniciar seu mecanismo de defesa. |
Copyright© 2000, Disciplina de Patologia Geral do Departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Página confeccionada por Luciana Corrêa. Qualquer dúvida, contacte-nos.